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O cristão é intolerante?



https://youtu.be/QGbMC7naBO4

A resposta é sim e não. Se você levar em conta os 2 mil anos de história do cristianismo e todo o sangue derramado nas Cruzadas, na Inquisição e em outras perseguições, então não há como negar que os cristãos são intolerantes. Mas não deveriam ser, porque não é isso que encontramos no Novo Testamento, muito pelo contrário.

A intolerância religiosa tem seus fundamentos na crença da superioridade, não da fé, mas da pessoa que professa essa fé. Quando você, que crê em Cristo, se acha melhor do que alguém que não crê ou até mesmo que não crê da mesma forma que você, a semente da intolerância já se instalou em seu coração. Agora ela vai crescer e se revelar em muitos aspectos.

Até que faria sentido alguém se sentir superior às outras pessoas, se a salvação fosse por mérito pessoal e os dons fossem desenvolvidos por evolução ou esforço próprio. Mas no caso do cristianismo, a salvação é pela graça somente, por meio da fé, e não vem de nós mas é uma dádiva de Deus.

Da mesma forma os dons espirituais, como o próprio nome já diz, são dons ou dádivas ou presentes. Ninguém os merece pois, assim como acontece com a salvação, Cristo os dá segundo a Sua vontade por intermédio do Espírito Santo. Portanto, não há qualquer fundamento para um cristão se considerar superior às outras pessoas.

O sentimento de superioridade leva ao próximo passo, que é a separação. Não falo aqui da separação do mal ou do pecado, que todo cristão deveria cultivar. Deus deseja que eu ande em santidade de vida, e se vivo por aí na companhia de incrédulos ou pessoas que vivem no pecado praticando os mesmos pecados, estou errado. Devo me separar do mal, mas não devo me separar das pessoas.

Como é isso? Não devo me tornar inacessível a elas, colocando-me em uma redoma de pureza e virando um intocável. O Senhor jamais agiu assim. Ele sempre esteve em contato com pecadores, muito embora fosse sem pecado e nem em pensamento concordava ou se fazia cúmplice de suas práticas pecaminosas. Mas Ele se deixava tocar por eles e comia com pessoas de má reputação, algo que dava aos fariseus razões para acusá-lo. Lembre-se de que Deus ama o pecador, mas abomina o pecado, e todo cristão deve fazer o mesmo.

Quando falo de ser acessível, não estou incluindo aqui os hereges, aqueles que deliberadamente andam por aí disseminando má doutrina ou buscando discípulos para segui-los. Destes devemos manter distância. Veja o que diz a Palavra de Deus:

Tt 3:10-11 "Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, sabendo que esse tal está pervertido, e peca, estando já em si mesmo condenado".


2 Jo 1:9-11 "Todo aquele que prevarica, e não persevera na doutrina de Cristo, não tem a Deus. Quem persevera na doutrina de Cristo, esse tem tanto ao Pai como ao Filho. Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras".

Recapitulando, primeiro vem sentimento de superioridade, e depois a discriminação e a separação das pessoas, e não apenas de seus costumes ou práticas, tornando-se inacessível a elas. O próximo estágio da intolerância religiosa é a perseguição passiva, que é a crítica constante, geralmente carregada de sarcasmo e ironia. Isso dá ao intolerante uma sensação de bem estar, pois reforça seu sentimento de superioridade.

Pessoas assim geralmente não estão muito inclinadas a pregar o evangelho e nem tampouco a ajudar aqueles que estão no erro, pois quanto mais gente errada ele encontrar, melhor a sensação que terá de superioridade. Obviamente a Palavra de Deus condena isso e nos estimula, não apenas a pregar o evangelho aos incrédulos, como a ajudar aqueles que estão no erro.

Tg 5:19-20 "Irmãos, se algum dentre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter, Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados".

A etapa final na escada da intolerância religiosa é atingida quando a pessoa passa a perseguir, direta ou indiretamente, aqueles que não pensam como ela. É comum cristãos se intrometerem em política para querer forçar a sociedade a adotar a sua forma de pensar, criando às vezes situações de perseguição contra aqueles que não pensam da mesma maneira.

Na época em que o Senhor Jesus andou aqui, e depois também no tempo dos apóstolos, a iniquidade e imoralidade corriam soltas. Quando os arqueólogos descobriram as ruínas de Pompéia e Herculano foi possível ver como viviam os romanos da antiguidade, pois as casas foram preservadas com seus afrescos pintados nas paredes em perfeito estado de conservação. As cenas nas paredes de muitas casas mais pareciam manuais de sexo segundo os padrões de nossos dias. A imoralidade fazia parte da vida normal dos romanos.

Se hoje a pedofilia é crime, naquela época era comum homens ricos comprarem meninos para usá-los como escravos sexuais. A prostituição era aceita como uma alternativa para o casal, caso um deles estivesse indisposto, e sabemos que em muitos países do Oriente isso também fazia parte da cultura até há poucos anos (se é que ainda não faz). O homossexualismo também era prática normal entre os romanos.

Se hoje nos espantamos com abortos, os romanos viam com naturalidade, não apenas abortar, mas também abandonar bebês ao relento caso tivessem nascido com algum defeito, fosse uma menina ou simplesmente nascesse na hora em que o casal não desejasse. Antes que você se espante com isso, saiba que algumas tribos brasileiras ainda praticam o infanticídio sob as vistas grossas do governo que prefere não interferir nos costumes nativos.

Agora veja que em todos os quatro evangelhos, Atos e epístolas, não há qualquer indicação de que Jesus, seus discípulos ou mais tarde a igreja, interferissem na política ou costumes do mundo para tentar mudá-los. Obviamente, quando uma pessoa se convertia ela passava a viver sob outra atmosfera e aí sim seus costumes deviam mudar. Com isso ela até poderia acabar influenciando a sociedade por seu modo de andar, mas não era uma influência ativa.

Perder isso de vista é não entender que o mundo jaz no maligno e que o cristão não tem nada a ver com o príncipe deste mundo ou com o modo como as coisas andam. Não haverá um mundo melhor, mais seguro, honesto e puro antes que Cristo volte para estabelecer o seu reino.

Nessa etapa da intolerância o cristão pode se achar investido de poder divino sobre a vida e a morte. Nos EUA é comum casos de cristãos fundamentalistas assassinarem médicos de clínicas de aborto. Vi um pastor numa entrevista em um jornal da CNN ou Fox News, não me recordo bem, que apoiava o homem que matou um médico que praticava aborto. Ele alegava que o médico estava matando crianças inocentes e precisava pagar por isso. Na falta da ação da lei, alguém precisou tomar uma providência.

Não estou considerando como corretas ou aceitáveis coisas como aborto, infanticídio, prostituição, homossexualismo ou pedofilia. O que estou dizendo é que o cristão não é deste mundo, e quando se intromete nos assuntos da política ou costumes daqui, o que nem mesmo o Senhor Jesus fez, acaba caminhando na direção de extremos, como a perseguição que alguns que se dizem cristãos promovem contra homossexuais ou médicos de clínicas de aborto, por exemplo.

Volto a lembrar que sempre que encontramos alguém que não pensa igual, sentimo-nos superiores e é aí que mora o perigo. Uma vez o corredor Alex Dias Ribeiro foi correr em Mônaco e decidiu espalhar ao longo do percurso faixas com sua frase preferida, "Cristo Salva", a qual também levava em seu carro. Recebeu um recado do bispo da cidade perguntando com autorização de quem ele estava usando o nome de Cristo.

Os casos mais extremos que conhecemos dessa etapa de intolerância são as Cruzadas, quando a própria igreja de Roma patrocinava e apoiava soldados para que fossem reconquistar Jerusalém no fio da espada. A Inquisição é outro exemplo de onde a intolerância pode chegar quando o cristão se considera superior às outras pessoas, se separa delas tornando-se inacessível, passa a criticá-las e a zombar delas, até chegar a matá-las como se estivesse fazendo a vontade de Deus.

É importante entender que muitos que praticam essas barbaridades estão acreditando piamente estarem fazendo um favor a Deus. Não precisa ir longe. Você já deve ter visto que há várias passagens em sua Bíblia que não constam nos manuscritos mais antigos, tendo sido adicionadas por copistas, que em seu excesso de zelo, não pensaram duas vezes antes de adulterar a Palavra de Deus. Dou dois exemplos:

1 Jo 5:7 "Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um".


At 8:37 "E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus".

Geralmente estes acréscimos eram feitos por algum copista à margem do texto com a intenção de explicá-lo, como são as notas de rodapé das Bíblias atuais. Aí vinha outro copista e acabava incluindo aquele trecho na sequência do texto. Lembre-se de que antes do século 15 não havia impressão e as cópias eram feitas à mão. Muitas das ações de intolerância começam com a melhor das intenções, mas o excesso de zelo também leva ao erro. Lembre-se de que os fariseus eram tão zelosos que ordenaram que o corpo de Jesus fosse tirado da cruz na sexta feira para não profanar o sábado, quando esse trabalho não seria permitido segundo a lei dada a Moisés. Tão zelosos eles eram e nem percebiam que tinham condenado seu Messias.

O melhor remédio para evitarmos a intolerância religiosa é olharmos para a maneira de proceder do Senhor Jesus. Veja o caso dos samaritanos, que eram pessoas que praticavam uma forma deturpada de judaísmo. Um judeu da época podia até conversar com um incrédulo pagão, mas não conversava com um samaritano, pois se sentia ofendido com a distorção que ele fazia de sua religião.

Lc 9:51-56 "E aconteceu que, completando-se os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém. E mandou mensageiros adiante de si; e, indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos, para lhe prepararem pousada, Mas não o receberam, porque o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém. E os seus discípulos, Tiago e João, vendo isto, disseram: Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consuma, como Elias também fez? Voltando-se, porém, repreendeu-os, e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Porque o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E foram para outra aldeia".

Em João 4 encontramos o Senhor à beira de um poço pedindo água a uma mulher samaritana, o que surpreende a mulher e, mais tarde, seus próprios discípulos, porque ninguém esperava que um judeu conversasse com uma mulher samaritana. Porém nós vemos Jesus se interessar por aquilo que ela estava fazendo ali, que era tirar água, colocar-se humildemente na condição de um necessitado, criando uma relação de empatia, oferecer uma alternativa muito melhor a ela, a água viva, e ir pouco a pouco fazendo com que ela revelasse sua vida devassa.

Ele não se isolou ou tornou-se inacessível à mulher. Não chegou a ela de queixo erguido, não zombou de sua vida devassa e nem a ameaçou com fogo e enxofre. Ele foi em amor e ganhou seu coração. Tanto que em outra passagem ele conta uma parábola do homem ferido e caído à beira do caminho, desprezado pelo sacerdote e pelo levita, porém socorrido pelo samaritano. Sabe quem representa aquele samaritano da história, que salva o homem, cura suas feridas, o carrega a uma estalagem e paga por sua estadia ali? O próprio Senhor, que não deixou de nos salvar, apesar de nossa condição lastimável. Se olhássemos mais para o modo como o Senhor andou aqui, teríamos menos problemas com a intolerância.
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional www.mariopersona.com.br. Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.
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