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Disciplina na assembleia e' para condenar quem pecou?



https://youtu.be/DBdidf0Wgu0

Quando a assembleia precisa agir em disciplina para com alguém que pecou, ela não assume o mesmo papel de um juiz de tribunal, cuja tarefa é condenar o malfeitor e mandá-lo para a prisão. Nem é seu papel determinar diferentes períodos de tempo de afastamento para este ou aquele pecado, como são as penas do código penal. Quando a assembleia julga algum pecado em seu meio, ela o faz com a autoridade do Senhor delegada em Mateus 18, mas principalmente no sentido de restaurar o que pecou.


Os irmãos que cuidam do assunto devem também estar cientes de que cada um ali tem o potencial para cair no mesmo erro. "Porque todos tropeçamos em muitas coisas" (Tg 3:2). Por isso todo julgamento é uma via de mão dupla, na qual as duas pontas estão sendo julgadas. Se os irmãos procederem mal nesse juízo e disciplina, seja por excesso, seja por negligência, terão de prestar contas ao Senhor da injustiça, se for este o caso, ou da leviandade com que trataram da questão.

Misericórdia é uma das qualidades de nosso Deus que devemos também praticar. Obviamente agrupamentos de cristãos que acham que um verdadeiro crente possa perder a salvação não saberão como agir assim. Ao contrário, sentirão um certo prazer quando o outro cair porque poderá se considerar mais justo e correto. Se seguirem doutrinas que interpretam erroneamente o "pecado para morte" (1 Jo 5:16), que na verdade fala de morte física e não perdição eterna, e se chamarem qualquer oposição aos seus líderes ou dogmas de "blasfêmia contra o Espírito Santo", que nada mais é do que o horrível ato dos judeus que associaram os milagres de Jesus ao príncipe dos demônios, dificilmente saberão com agir com misericórdia para com o que pecou e nem sequer estarão interessados em restaurá-lo.

Uma vez julgado o pecado, a assembleia afasta o transgressor para preservar a santidade da casa de Deus e evitar que outros sejam contaminados, pois "um pouco de fermento faz levedar toda a massa" (1 Co 5:6). Mas a assembleia faz isso, não como juiz e carrasco, mas como um pai amoroso que sofre juntamente com o filho que precisa disciplinar. Ao mesmo tempo em que impõe um castigo de privações e isolamento como forma de despertar sua consciência e levá-lo ao arrependimento, faz isso visando sua restauração, e não a destruição.

Neste processo os irmãos podem estar tão insensíveis e indiferentes ao pecado, que nem se entristecerão por vê-lo levedando toda a massa, como no capítulo 5 de 1 Coríntios. Paulo chama a atenção deles por sua indiferença: "Nem ao menos vos entristecestes por não ter sido dentre vós tirado quem cometeu tal ação?" (1 Co 5:2). O outro extremo é o da severidade demasiada, a mesma que Davi queria evitar quando disse preferir cair nas mãos de Deus do que dos homens para receber o castigo por sua infração. "Então disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; caia eu, pois, nas mãos do Senhor, porque são muitíssimas as suas misericórdias; mas que eu não caia nas mãos dos homens." 1 Cr 21:13.

Mais tarde Paulo precisaria exortar os irmãos de Corinto para não serem demasiadamente severos, como um pai que machuca um filho que quer disciplinar. Ele lhes escreve: "Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza. Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor." (2 Co 2:6-8). Não apenas um ou dois haviam repreendido o que caíra em pecado, mas "muitos", o que tinha sido correto. 

O que é triste é encontrarmos irmãos que, ao invés de manterem um espírito de "repreensão", darem tapinhas nas costas de quem está em processo disciplinar, como se fosse algo para ser levado a sério somente durante as reuniões da igreja. Também há os que convidam para jantar, como se Paulo não tivesse deixado claro em 1 Coríntios 5:11: "com o tal nem ainda comais". Mas no caso dos Coríntios, ou eles eram oito ou oitenta, e o zelo demasiado já tinha passado dos limites e não era mais benéfico e nem restaurador para o que fora disciplinado. Existia agora o risco de ele ser "devorado de demasiada tristeza" (2 Co 2:7).

Acredito que não tenha sido à toa que, no Antigo Testamento, Deus nos tenha deixado um leproso — um doente, e não um criminoso — como figura do pecador que precisa ser excluído da comunhão da assembleia e aguardar fora do acampamento até sua restauração. Ele era mais para ser cuidado, como numa enfermaria de isolamento, do que penalizado e jogado numa cela, como acontece nos tribunais e presídios da justiça humana. O sacerdote, e não um carcereiro, iria visitá-lo regularmente para examinar a lepra, e quando todo o corpo estivesse coberto pela doença o leproso seria declarado limpo. Por estranho que possa parecer, o significado disso para nós é que somente quando o que pecou reconhece seu pecado da cabeça aos pés é que ele está pronto para ser restaurado à comunhão.

"E, se a lepra se espalhar de todo na pele, e a lepra cobrir toda a pele do que tem praga, desde a sua cabeça até aos seus pés, quanto podem ver os olhos do sacerdote, então o sacerdote examinará, e eis que, se a lepra tem coberto toda a sua carne, então declarará o que tem a praga por limpo; todo se tornou branco; limpo está." (Lv 13:12). Enquanto existir alguma superfície de "carne viva, declara-lo-á por imundo; a carne é imunda" (Lv 13:13). Isto significa que existe ainda alguma justiça própria, raiz de amargura, sentimento faccioso, acusações contra alguém e coisas do tipo. "Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus." (Sl 51:17), escreve Davi no Salmo em que chega à plena admissão de seu pecado. Uma boa sequência a se observar é o caminho de reconhecimento de pecado que ele percorreu.

No Salmo 7:3 ele diz: "Senhor, meu Deus, SE eu fiz isto..." mostrando ainda não ter consciência de seu pecado. No capítulo 19:12 ele já admite que pode ter alguma coisa errada com ele, mas que ainda não quer enxergar, ao dizer: "Quem pode entender os seus erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos". Então no Salmo 25:7 ele admite ter pecado, mas como se fosse algo passado: "Não te lembres dos pecados da minha mocidade...", e no Salmo 38:4 começa a sentir o tamanho e gravidade de seu erro, ao dizer: "As minhas iniquidades sobrepassam a minha cabeça, como carga pesada são demais para as minhas forças".

Mas é no Salmo 51 que nós o vemos frente a frente com seu pecado, precisando olhar nos olhos de sua própria maldade e clamar por misericórdia, reconhecendo ter sido Deus aquele a quem ele realmente ofendeu, de quem depende agora sua restauração e purificação. "Tem misericórdia de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apagas minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias. Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado. Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que é mal à tua vista, para que sejas justificado quando falares, e puro quando julgares." (Sl 51:1-4).

por Mario Persona

Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional www.mariopersona.com.br. Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.
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