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Devemos ou nao pregar arrependimento?



https://youtu.be/wQEDFKm5wGU

Você leu um texto ou viu um vídeo onde eu dizia que o evangelho pregado aos judeus começava falando de arrependimento, mas quando era pregado aos gentios só falava de crer em Cristo. Todavia você encontrou nos capítulos 17 e 26 de Atos passagens que pareciam indicar outra coisa, pois ali o arrependimento parece ter sido pregado para a conversão de gentios.

A palavra grega usada para arrependimento tem dois sentidos. Um é o de sentir remorso pelo que fez, e é este o arrependimento que se exigia dos judeus. Primeiro, na pregação de João Batista, por terem se afastado da Lei de Deus e criado tradições que invalidavam os mandamentos de Deus, e depois, na pregação em Atos, por terem matado o Messias de Israel.

"E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, homens irmãos? E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo." (At 2:37-38).

"O Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu filho Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, tendo ele determinado que fosse solto. Mas vós negastes o Santo e o Justo, e pedistes que se vos desse um homem homicida. E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas... E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos príncipes. Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado; que o Cristo havia de padecer. Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor, e envie ele a Jesus Cristo, que já dantes vos foi pregado." (At 3:13-20). 

Já em Atos 17, quando Paulo prega aos gentios em Atenas, entendo que o sentido era outro, pois ali o assunto era a idolatria. Então quando eu disse que existem dois sentidos para a palavra arrependimento, o outro é o de mudança de atitude, pois aqueles gentios pagãos não poderiam conhecer o Deus verdadeiro se continuassem adorando seus ídolos.

"Então, Paulo, levantando-se no meio do Areópago, disse: Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos; porque, passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele que eu vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse; pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais; de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós; pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração. Sendo, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade é semelhante ao ouro, à prata ou à pedra, trabalhados pela arte e imaginação do homem. Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos." (At 17:22-31).

Repare que em sua mensagem Paulo não chega nem mesmo a mencionar o nome de Jesus quando fala de ressurreição, pois precisava antes pavimentar o caminho para aqueles pagãos entenderem que há um só Deus. Eles precisavam primeiro escutar isso, algo desnecessário de se pregar a um judeu que já era instruído a crer em um único Deus. Os gentios também precisavam saber que não poderiam abraçar o Deus verdadeiro sem antes reconhecer que estiveram até então adorando deuses falsos. Então esse tipo de pregação é de "puxar o tapete", ou seja, para que eles deixassem (se arrependessem) de confiar nos ídolos para se converterem ao Deus vivo.

A outra passagem que você citou, em Atos 26:20, fala de obras dignas de arrependimento, ou seja, que são consequência de uma conversão real. Obviamente sempre que alguém se converte é levado ao arrependimento, seja ele judeu ou gentio, porque todos têm de que se arrepender, e isso faz parte do sentimento de vergonha pela nossa condição. A diferença está na mensagem aos judeus que tinha esse aspecto que expliquei.

"Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas anunciei primeiramente aos de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de arrependimento." (At 26:19-20).

Arrepender-se é ir contra a natureza humana, que quer sempre estar com a razão. Para se arrepender você precisa admitir que falhou, e seu ego não vai gostar nada disso. Você pode até fazer algo para reparar o dano e mesmo assim não estar arrependido, como quando paga uma multa de trânsito. Você sente-se mal pelo dinheiro que gastou, mas não pela infração que cometeu.

Existe também um terceiro tipo de arrependimento que é necessário quando pecamos. Nosso primeiro impulso é jogar a culpa em alguém, e isso não vem de hoje. Eva jogou a culpa na serpente: “A serpente me enganou, e eu comi.” (Gn 3:13). Adão culpou a mulher e o próprio Deus: “A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.” (Gn 3:12). Colocar a culpa no outro é um instinto carnal, mas julgar a si mesmo e se considerar culpado só é possível como resultado da graça operada por Deus na alma, algo contrário à natureza humana. Então em todas as situações o verdadeiro arrependimento deve partir de Deus, não do homem. A este cabe apenas acatar aquilo que Deus está operando em sua alma.

Três coisas nos levam ao arrependimento, e repare que nenhuma delas vem do homem, mas de Deus: a bondade de Deus, o juízo futuro vindo de Deus e a tristeza segundo Deus:

"Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?” (Rm 2:4).

"Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.” (At 17:30-31).

“Agora folgo, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus; de maneira que por nós não padecestes dano em coisa alguma. Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte.” (2 Co 7:9-10).

O arrependimento genuíno é um exercício profundo de alma, como descreve o profeta Jeremias, e aqui você percebe que ele aparece depois da conversão, e não antes: “Na verdade que, depois que me converti, tive arrependimento; e depois que fui instruído, bati na minha coxa; fiquei confuso, e também me envergonhei; porque suportei o opróbrio da minha mocidade.” (Jr 31:19).

O arrependimento verdadeiro gera uma mudança de atitude, mas o falso é apenas uma fuga das consequências, como acontece com o bandido que se diz arrependido só porque foi preso. Ao tratar com os fariseus e saduceus, que só tinham aparência de piedade, João Batista os alertou da necessidade de demonstrar o arrependimento na prática: “Quem lhes deu a ideia de fugir da ira que se aproxima? Deem fruto que mostre o arrependimento!” (Mt 3:7).

Um arrependimento genuíno não leva a pessoa a fugir de Deus, mas a permanecer na presença dele em total reconhecimento de sua culpa. Os judeus que levaram a mulher adúltera para ser apedrejada por Jesus fugiram quando suas consciências foram tocadas pela Palavra do Senhor: "Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela." (Jo 8:7).

A mulher, por sua vez, permaneceu diante daquele que tinha poder e autoridade para apedrejá-la como mandava a Lei. No entanto recebeu palavras de perdão e graça. "E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais." (Jo 8:10-11).

por Mario Persona

Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional www.mariopersona.com.br. Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.
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