https://youtu.be/plH3yOaRSIM
Sua dúvida foi especificamente no caso do versículo seguinte: "As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar" (I Co. 14:34). Você se valeu de fatores históricos para opinar, escrevendo:
"O texto acima significa que as mulheres da época, quando Paulo se referia à elas, quando judias, já tinham a educação desde criança de que não participassem dos ensinos nas sinagogas e etc, somente os meninos a partir dos 12 anos. A preocupação de Paulo era com as mulheres gentias que traziam muitas fábulas e supertições no meio da igreja de Corinto, dessa forma esse ensino era somente para as mulheres da época. Hoje as mulheres podem e devem falar nos cultos a Deus."
A dificuldade com esse tipo de interpretação é que ela busca informações extra-bíblicas para explicar um texto bíblico, e há um risco aí. Aqui o tema é se a mulher pode ou não falar na igreja (ou seja, quando eles se reuniam para orar, partir o pão, louvar a Deus e serem instruídos na Palavra de Deus), e sua opinião é que devemos recorrer a uma comparação entre a época de então e os costumes da época em que vivemos. Vamos fazer um teste:
O mesmo apóstolo exorta em outras passagens para que os cristãos não pratiquem fornicação, que é basicamente relações sexuais fora do casamento. Porém hoje é perfeitamente normal pessoas terem relações sexuais antes do casamento. Isso é bem aceito nas novelas, nos filmes e namorados costumam viajar juntos com a aprovação dos pais. Usando o mesmo raciocínio poderíamos considerar que aquela exortação devia ser apenas para os costumes daquela época, e não deveriam mais ser seguidos na sociedade moderna e liberal de nossos dias.
Também hoje é considerado politica e socialmente correto o homossexualismo e as leis de alguns países já dão status de casamento civil à união entre duas pessoas do mesmo sexo. Seguindo sua linha de raciocínio teríamos de admitir que as exortações feitas por Paulo no livro de Romanos contra o homossexualismo seriam válidas somente para aquela época ou, talvez, exclusivamente para os cristãos em Roma.
O aborto já é legalizado em alguns países mais desenvolvidos, o que nos faria pensar que a proibição da prática poderia fazer sentido na igreja primitiva, mas não hoje, numa sociedade tão avançada quanto a que vivemos. Será assim? Não, ou a Palavra de Deus não seria mais de Deus, mas dependeria de uma aprovação cultural, algo como um selo da "opinião pública".
As modas mudam, os costumes mudam, mas a Palavra de Deus permanece. Obviamente há coisas que não são taxativas na Bíblia. Não existe, por exemplo, alguma proibição para usar computador, mas outras coisas são muito claras. Também é preciso discernir o que foi ordenado aos isralelitas, ainda sob a lei mosaica, e o que é a 'doutrina dos apóstolos', dada pelo Espírito Santo à igreja, ou vamos sair por aí apedrejando pessoas, guardando o sábado e matando cordeiros como sacrifício.
Todavia, naquilo que diz respeito à doutrina dada à igreja (as epístolas), entendo que, se pudermos abrir mão do ensino que ela nos traz, e particularmente neste caso de 1 Coríntios 14, tentando nos basear nos costumes atuais, podemos abrir mão também de tudo o mais com base na mesma autoridade dos costumes e da opinião pública.
E se ainda existir alguma dúvida a respeito, creio que as palavras com as quais o apóstolo Paulo encerra a questão em 1 Coríntios 14 (ele devia estar prevendo objeções) servem para eliminar qualquer idéia de que o que ele estava dizendo até ali eram meras opiniões pessoais ou baseadas na cultura da época e do lugar:
"Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós? Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor."