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A ordem "falem dois ou tres" e' no sentido literal?



https://youtu.be/vpc7s3Tph7k

Sua dúvida está na passagem de 1 Coríntios 14 quando o Espírito Santo, através do apóstolo Paulo, estabelece as diretrizes para a ordem na reunião da assembleia dos cristãos (leia o artigo "Uma variedade de reuniões" para entender o que vou dizer). "E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos." (1 Co 14:29-33).

Será que "dois ou três" é literalmente um máximo de três? Será que não existe a possibilidade de interpretar que, por existir a cláusula "se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa" que segue a ordem, não estaria assim abrindo a possibilidade de mais gente ministrar? E por ele não acrescentar "quando muito três", como fez no caso das línguas no versículo 27, não deveríamos entender isso como uma direção geral para a ordem da reunião de ministério da Palavra, e não um número específico?

O assunto começa no versículo 26 quando diz, "Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis...", mostrando claramente serem estas as instruções para a reunião da igreja ou assembleia. A cristandade como um todo parece não ter muito problema com esta passagem, já que em quase a totalidade das reuniões cristãs nas denominações religiosas só existe um que fala e os outros apenas escutam sem a possibilidade de julgarem o que está sendo dito e intervirem no caso de alguma coisa fora dos fundamentos bíblicos. É como se os sistemas religiosos tivessem criado suas próprias instruções à revelia do plano colocado pelo Espírito Santo e trocassem o "Falem dois ou três profetas, e os outros julguem" por "Fale só o padre ou pastor e ai do leigo que ousar julgar".

Mas quando nos propomos a estar congregados pelo Espírito somente ao nome do Senhor segundo a direção da Palavra de Deus e não dos dogmas e regras criados pelos teólogos, é preciso antes entender a diferença entre uma reunião de estudo bíblico — quando, por exemplo, seguimos uma ordem pré-definida lendo capítulo a capítulo de um determinado livro das Escrituras —, e uma reunião aberta, quando deixamos aberto para ver o que o Espírito pode ter para nós. É o Espírito Santo quem conhece a condição da assembleia naquele momento e pode trazer o alimento ou remédio necessário aos santos.

No primeiro caso continua existindo ordem na reunião, mas não vejo que se aplique essa limitação de no máximo três para uma simples reunião de estudo ou leitura da Palavra. Mas na reunião aberta de ministério da Palavra sim, esta é a ordem que o Espírito Santo colocou por se tratar de uma reunião que faz parte dos pilares colocados pela Palavra ou o "A-B-C" das atividades da assembleia reunida, quando não seguimos alguma ordem de leitura preestabelecida, mas deixamos a reunião aberta à direção do Espírito para trazer o assunto que ele achar propício: "E perseveravam na doutrina e comunhão dos apóstolos (A), e no partir do pão (B), e nas orações (C) reunião ." (At 2:42 - JND).

O item que chamei de "A" refere-se ao ministério e aprendizado em comunhão com o que os apóstolos nos legaram, a "sã doutrina".  "Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências" (2 Tm 4:3); "Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes." (Tt 1:9); "Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina." (Tt 2:1); "...como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição." (2 Pe 3:15-16).

O item "B" se refere à ceia do Senhor celebrada com pão e vinho como símbolos do corpo e sangue de Jesus em sua morte, para a qual temos instruções específicas em 1 Coríntios 11 e também em outras passagens, e o "C" às orações em assembleia, que têm um caráter diferente das orações privativas de cada um, pois devem ser apresentadas dentro daquilo que é de conhecimento ou necessidade dos santos, e não as coisas que oramos todos os dias em casa com a família, que podem ser assuntos particulares demais para serem expostos publicamente.

Em razão da extrema fraqueza em que vivemos hoje, muitas assembleias acabam substituindo a reunião aberta de ministério da Palavra por uma de leitura, ou como fazemos em Limeira, abrem o momento como uma reunião aberta dando um tempo para ver se algum irmão se manifesta e, se não acontece, seguem com a leitura de um capítulo das Escrituras numa reunião de caráter de leitura. Mas eu soube de uma conferência anual em uma assembleia nos Estados Unidos de cujo programa os irmãos tinham tirado a reunião aberta por às vezes ninguém trazer nenhuma palavra. Porém, da última vez, decidiram retornar com a reunião aberta no programa da conferência e ficaram surpresos em como foram edificados pelo ministério da Palavra. Por isso é bom identificar nossa fraqueza, mas também é bom não nos esquecermos de que o Espírito Santo deve ter liberdade.

No caso de revelação, como é mencionado ali — "se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro" (1 Co 14:30) — não as temos hoje como era no tempo dos apóstolos, pois naquela época ninguém podia dizer "vamos abrir em Romanos, capítulo tal..." porque não tinham ainda a revelação completa. A revelação de Deus completou-se com o que foi entregue ao apóstolo Paulo, portanto esqueça aquelas reuniões de cristãos em que algum se levanta e com a maior ousadia (eu chamaria "cara de pau") muda o tom da voz e diz algo como "Meus filhos, tenho uma revelação para vós...". Normalmente o que se segue é uma mera profetada que pode ser tanto para aterrorizar como para encher o ego de alguém, mas pode também para estragar um casamento ou a vida de alguém.

Mas essa limitação de dois ou três falarem nas reuniões abertas exige responsabilidade de quem fala e de quem não fala. Se um irmão diz uma breve frase ou simplesmente faz uma pergunta, sabendo que estamos ali aguardando pelo ministério do Espírito através dos dons, ele não está entendendo bem o que é a reunião de ministério da Palavra, pois, por assim dizer, "queimou" um cartucho e limitou a liberdade do Espírito de usar outros para profetizarem. Imagine se três numa reunião fizessem a mesma coisa e fizessem apenas uma pergunta cada um ou dissessem apenas uma frase que totalizasse, digamos, três minutos do tempo reservado para toda a reunião. Criaria uma situação difícil para que outros se aventurassem a ministrar sabendo que estariam fora da ordem do "dois ou três".

Obviamente estou exagerando só para entendermos a responsabilidade que existe daqueles que ministram que devem trazer algo que seja para edificação, exortação e consolação dos santos. Não que necessariamente irá receber uma inspiração instantânea, mas geralmente o que trará será o fruto de alguma meditação e comunhão que tenha na Palavra de Deus, algo que poderia já estar em sua "sacola" como os pães e peixes que o jovem entregou aos discípulos, e este ao Senhor, para serem multiplicados em algo suficiente para alimentar a todos. Os que ministram também devem fazê-lo segundo a direção do Espírito e não só esperar sua vez, como também aguardar para ver se acaso o Espírito não estaria querendo outro para falar naquele momento. Voltando ao exemplo que dei — de alguém trazer apenas uma frase ou pergunta — é claro que o Espírito Santo poderia muito bem querer que só fosse dita uma frase naquela reunião, mas certamente seria uma frase de tamanho significado que todos sairiam dali consolados, exortados ou edificados. "Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação." (1 Co 14:3).

Eu mesmo confesso que algumas vezes "transgredi" a ordem do "falem dois ou três", até por não ter prestado atenção em quantos já haviam falado. Mas se a ordem está ali poderíamos ter um milhão de argumentos para colocá-la de lado (como fazem muitos cristãos no caso da ordem dada para que a mulher fique em silêncio, por exemplo), mas ao fazer assim estaríamos indo na contramão do que o Espírito determinou. Outro ponto importante é aquele que ministra não querer ocupar todo o tempo da reunião com seu discurso, mas fazer pausas para esperar para ver se o Espírito gostaria de introduzir algo pelo ministério de outro.

Isso vale também para outras reuniões, e neste caso o princípio mostrado pelo apóstolo em 1 Coríntios 11:33, obviamente falando de outro assunto mas que indica bem o espírito em que devemos estar quando reunidos: "Portanto, meus irmãos, quando vos ajuntais para comer, esperai uns pelos outros." Quando o assunto é parcimônia no uso do tempo da reunião, sempre me recordo do que um irmão comentou com outro depois de uma longa oração: "Irmão, sua oração me elevou aos mais altos céus, e a mesma oração me trouxe de volta à terra".

Mais uma coisa: o "falem dois ou três" não significa que um que já falou não possa voltar a falar. Entendo que esse é o número de profetas que falam, não de mensagens trazidas, e como "profeta" entenda alguém que esteja proferindo o ministério tirado da Palavra escrita, e não alguém trazendo alguma revelação inédita ou aviso de uma catástrofe futura, como muitos acreditam ser. O sentido de profeta aqui é o de um porta-voz de Deus para a assembleia. Mas dois ou três falando é um número mais que suficiente, principalmente para termos capacidade limitade de assimilar o que é falado e também por não desejarmos que alguém fuja da reunião prolongada por ter algum compromisso inadiável de família, trabalho ou estudo, como mostra o texto de W. T. P Wolston que traduzo aqui:

"Esta é a instrução distinta dada por Deus, e revela sua mente e vontade para Sua assembleia, quando reunida. Nada poderia ser mais claro, e, com tristeza seja dito, nada foi mais desatendido pela Igreja. A regra em quase todos os corpos eclesiásticos foi colocar tudo, de antemão, nas mãos de um homem. Assim, o Espírito é extinguido e, como consequência, todos sofrem. Mas por que você acha que, o Espírito Santo meio da assembleia, disse que dois ou três profetas, e apenas dois ou três, poderiam falar? Por que não quatro, cinco ou seis? Eu acho que é uma prova prática da sabedoria infalível e do terno cuidado de nosso Deus. Se, quando reunidos em assembleia, ouvimos dois ou três discursos de nossos irmãos, recebemos o máximo que poderemos aproveitar, e se tivéssemos mais é muito provável que haveria pouco proveito nisso, considerando a fraqueza do corpo em alguns, se não em todos, poderia se manifestar. Deus sabia muito bem o que seria nossa vida aqui e, consequentemente, Ele sabia que haveria necessidades e responsabilidades, e a necessidade de alguns voltarem para casa no horário determinado. Deus não queria que a reunião de Sua assembleia fosse tão indefinidamente prolongada, que alguns precisassem fugir da assembleia antes que a reunião fosse concluída. Tudo deveria ser de tal natureza que tudo seria feito 'decentemente e com ordem', portanto ele diz: 'E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro.' (1 Co 14:29-30). Não digo que o primeiro deva terminar de falar antes de outro se levantar. O sentido é que não deveria haver dois ou três falando ao mesmo tempo, como às vezes podia estar sendo o caso, tão ávidos que podiam estar de serem ouvidos. Se o Espírito de Deus fez um sinal de que Ele queria usar um certo vaso, então 'cale-se o primeiro'. Ele deve estar sujeito ao Espírito. 'Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos.' (1 Co 14:31-33). Até o mais sábio profeta pode aprender com seu irmão." [W. T. P. Wolston : "Another Comforter" : Lecture 11 The Gifts of the Spirit.]

Estes links podem ajudar (no caso dos textos em inglês, se precisar, copie e cole o link em www.translate.google.com para ter uma ideia do que está sendo dito pelo autor):

http://manjarcelestial.blogspot.com.br/2015/12/uma-variedade-de-reunioes-bruce-anstey.html
http://www.stempublishing.com/authors/wolston/SPIRIT11.html
http://www.stempublishing.com/authors/rossier/ASSM_MTG.html
http://www.stempublishing.com/authors/fereday/MOSTHREE.html

por Mario Persona


Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional www.mariopersona.com.br. Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.
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