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A mulher deve evitar o veu para nao escandalizar?



https://youtu.be/GqGUaK6OgVQ

Sua dúvida é: "Uma mulher que crê no Senhor e entende que deve orar ou profetizar (falar da Palavra) com a cabeça coberta como ensina 1 Coríntios 11, poderia deixar de fazer isso para não escandalizar outras mulheres que não entendem da mesma maneira?"

Fiquei preocupado de não ter compreendido sua dúvida da outra vez e acabei escrevendo um email enorme. Depois dividi em dois assuntos e publiquei no Respondi.com.br achando que poderia servir para mais alguém. E já serviu. Um leitor escreveu muito bravo dizendo que não vai mais me chamar de irmão e nem meu saudar com a Paz do Senhor se me encontrar...

O cristão deve sim se preocupar em não escandalizar as pessoas e o difícil para isso é que não temos uma lista de lugares e situações com instruções específicas de como agir. Vamos precisar depender da Palavra, do Espírito e às vezes do bom senso. É o caso da oração instantânea feita numa moto a 100 por hora por um homem de capacete (com a cabeça coberta) que dei de exemplo no outro email. De qualquer modo o cristão deve sempre ser discreto -- mas não frouxo -- no modo como pratica sua fé, para evitar escandalizar. "Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus" (1 Co 10:32).

Escrevo isto principalmente pensando naqueles que fazem de tudo para propagar aos quatro ventos que são cristãos. Não estou falando especificamente dos que procuram levar uma vida de bom testemunho ou que pregam o evangelho. Estou me referindo aos que adotam uma série de jargões, slogans, roupas e adereços, não para dizer ao mundo "Crê no Senhor Jesus", mas "Vejam todos, eu sou cristão". Este foi o assunto mais de minha resposta anterior.

Existe uma diferença. Um (o que procura viver um bom testemunho ou pregar o evangelho) aponta para Cristo, outro aponta para si mesmo ou para sua própria fé, e isto pode denotar insegurança. São pessoas que não se sentem contentes crendo em algo sozinhas e só se sentem fortes e poderosas quando bancadas em suas crenças por uma multidão.

O problema é que pessoas assim, quando encontram resistência ou indiferença, acabam se tornando agressivas e discriminatórias. Se forem radicais seu jeito de reduzir o número dos que se opõem ou são indiferentes à sua própria fé é matando todos eles, e não faltam exemplos na história da cristandade de ações desse tipo.

Há também aqueles que, de tanto lerem histórias de perseguições contra cristãos em países comunistas ou islâmicos, acham que só estarão vivendo a vida cristã correta se forem perseguidos. Aí se tornam agressivos ou chatos em seu testemunho, como quem quer "comprar briga". Quando são rejeitados, demitidos, xingados ou até espancados por sua inconveniência e impertinência, aí se sentem felizes e logo se justificam usando o versículo: "Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos" 2 Tm 3:12

Então o que precisamos é de obediência à Palavra e também de bom senso e discrição para fazer as coisas para o Senhor e não para os homens. Dou um exemplo: por ser palestrante, tenho muitas oportunidades de falar a multidões de às vezes mais de mil pessoas. A Bíblia diz: "Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina" 2Tm_4:2. Por que não aproveitar aquele público todo e incluir o evangelho em minhas palestras? Porque seria errado (neste link eu explico por que não falo do evangelho e nem aceito ser contratado para isso: http://www.respondi.com.br/2007/01/voc-faz-palestra-de-espiritualidade-na.html )

No meu entender, se eu usasse das palestras para falar de minha fé estaria traindo a confiança da empresa que me contratou e está me pagando, não para eu pregar o evangelho, mas para falar de vendas, carreira ou negócios. Ela está comprando meu tempo e não posso gastar um pedaço daquele tempo, que naquele momento pertence, não à mim, mas à empresa que me contratou, para incluir algo que não esteja no contrato. Seria como eu ter um açougue e para cada freguês que fosse comprar um quilo de carne eu entregasse o pacote contendo setecentos gramas de carne e um evangelho de trezentos gramas.

Pode ter certeza: já fui criticado mais de uma vez por cristãos que viram alguma palestra minha e ficaram frustrados por eu não ter falado do evangelho. Acho até que alguns que vão a palestras minhas abertas ao público acham que estão indo ouvir uma pregação. Os comentários costumam ser "Você nem aproveitou para pregar o evangelho, e tinha tanta gente ali... Nem parece que você é cristão...". Sem contar um que, no final, veio até mim com uma "profetada" mais ou menos assim: "O Espírito está me revelando que você deveria ter pregado o evangelho e não pregou!". É claro que isso veio com aquela voz de autoridade como se eu estivesse diante do próprio Deus e não pudesse nem discordar.

Mas, depois de todas as voltas que dei vamos voltar à sua pergunta:

"Uma mulher que crê no Senhor e entende que deve orar ou profetizar (falar da Palavra) com a cabeça coberta como ensina 1 Coríntios 11, poderia deixar de fazer isso para não escandalizar outras mulheres que não entendem da mesma maneira?"

No meu entendimento ela deveria sim cobrir a cabeça em todas essas ocasiões, sempre que isto for possível (e este "sempre que possível" é relembrando o caso do homem de capacete na moto), porque não faz isso por causa de homens, mas por causa dos anjos. Os anjos estão em todo lugar, é em todo lugar (e não só nas reuniões da assembleia) que ela deve obedecer esta ordenança. É até por isso que o véu costuma ser parte integrante do vestido de noiva, embora a maioria das noivas desconheça sua origem e significado.

Mas é preciso esclarecer algumas coisas. Primeiro, a passagem em 1 Coríntios 11:1-16 não diz no original "cobrir a cabeça com véu", mas ter a cabeça velada, isto é, coberta ou escondida.

Portanto não é de um objeto "véu" que o texto fala, mas do ato de velar ou cobrir, o que pode ser feito com qualquer coisa além de um véu. As irmãs costumam usar um véu de tecido fino por ser leve e fácil de guardar, mas pode ser um chapéu, como era o costume no passado e ainda é nas assembleias nos Andes, onde as irmãs já tem o costume de usar um chapéu "coco" típico do povo nativo da região. Pode ser um pano qualquer, um lenço de cabelo, um guardanapo, revista ou até a mão. Até fraldas eu já vi sendo usadas (não as descartáveis). Se algo cobre a cabeça, então a cabeça está coberta ou velada (escondida). Muitas irmãs que conheço e que almoçam fora todos os dias colocam a mão sobre a cabeça na hora de dar graças pelo alimento.

Outra coisa importante é entender que a mulher deve cobrir a cabeça "por causa dos anjos" (1 Co 11:10), e não por causa dos homens. Portanto o ato de cobrir a cabeça nada tem a ver com a cultura e os costumes. Já ouvi todo tipo de desculpa, e a clássica é a que tenta explicar que em Corinto existiam prostitutas de cabeça rapada e a ordem seria apenas para elas. No entendimento desses, hoje a mulher só teria de cobrir a cabeça se fosse prostituta e corintiana (no sentido de habitante de Corinto, evidentemente).

Como se não faltassem argumentos esdrúxulos, existem ainda alguns que usam esta passagem para dizer que a mulheres agora já podem tirar o véu: "Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado" 2Co_3:16. Neste caso nem vale a pena comentar algo tirado com tamanha ignorância de seu contexto.

A razão de a mulher cobrir a cabeça e o homem descobrir a cabeça ao orar ou profetizar está na ordem explicada nos primeiros versículos. Deus -> Cristo -> Homem -> Mulher. O homem que ora ou profetiza com a cabeça coberta ou velada desonra sua cabeça (Cristo). O homem não se cobre por ser a imagem e glória de Deus (vers. 7) e a mulher se cobre por ser a glória do homem e por ela ter vindo do homem. Mas antes que alguém acuse a Bíblia de fazer discriminação, o texto lembra que é apenas uma questão de ordem (até governos, empresas e escolas têm essa ordem de colocar um sobre outro em cargos ou posições de responsabilidade). "Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor" (1 Co 11:11).

Outra coisa importante é entender que o texto não diz que o cabelo lhe foi dado como substituto da cobertura, mas como se fosse um véu. Para entender, é só analisar a ordem dada ao homem: não orar com a cabeça coberta. Se considerarmos que o cabelo é a cobertura, então a dedução lógica seria que todo homem deve rapar sua cabeça antes de orar, porque, afinal, este é também o exemplo dado no caso da mulher.

1Co 11:5-6 Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada. Portanto, se a mulher não se cobre [com véu], tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu [cobertura].

Se o cabelo fosse realmente o véu do qual o apóstolo está falando, seria estranho dizer algo que poderia ser lido também assim: "se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o cabelo". Não faria sentido o apóstolo Paulo gastar tantas palavras só para dizer que o cabelo é o véu da mulher. Bastaria ele dizer que as mulheres não deveriam rapar a cabeça. Se numa época quando o costume já era o de as mulheres não saírem de casa sem um pano na cabeça, como era costume os homens não saírem na rua sem chapéu até os anos 50, por que ele iria gastar dezesseis versículos falando do assunto?

Portanto, assim como estaria fora de ordem um homem orar com a cabeça coberta por um chapéu ou boné, é fora de ordem a mulher cristã orar sem cobrir a cabeça, independente do que ela use para fazer isso.

Mas aí você poderia perguntar: "Não caberia aqui o mesmo argumento que você usou para não pregar o evangelho em suas palestras?"

Não, porque as palestras eu faço para meus clientes, e a oração nós fazemos a Deus, e não a homens. E o evangelho eu já prego de outras maneiras, em outras situações. Pensar que o cristão tenha a obrigação de pregar o evangelho sempre que estiver na presença de mais pessoas faria de todos nós devedores neste sentido, pois aí teríamos que viver pregando na rua, no ônibus, no metrô, no avião, na sala de aula, no escritório... Eu ficaria preocupado em viajar num avião com um piloto cristão que, ao invés de se concentrar nos instrumentos, ficasse o tempo todo pregando o evangelho pelo interfone para uma audiência que num voo internacional pode passar de 500 pessoas. E imagine o Kaká falando de Cristo para os outros 21 jogadores mais juiz e bandeirinhas, ao mesmo tempo em que corre pelo gramado em pleno jogo. Ele desmaiaria sem fôlego antes do final do primeiro tempo.

Portanto, se uma irmã em Cristo quiser, na sua simplicidade, atender ao que o Senhor pediu a ela para fazer por causa dos anjos, e ao mesmo tempo não chamar atenção para as pessoas e escandalizá-las (as vezes o efeito é contrário e elas podem querer saber mais), que cubra a cabeça com a mão durante uma oração rápida. Ou para algo mais prolongado e se ainda estiver insegura quanto ao impacto que poderá causar nos outros presentes que não entendem da mesma forma, que peça licença, vá ao toalete e volte com um belo lenço na cabeça, que seria sempre bom ter na bolsa.

Veja o lado bom disso! Pode ser até que as outras mulheres achem que está na moda e passem a imitá-la. Quando D. João VI transferiu para o Brasil o seu reino e toda a corte, na longa e suja viagem de navio as mulheres foram atacadas por piolhos e precisaram rapar a cabeça para exterminarem a peste. Quando desembarcaram no Rio em março de 1808, todas com lenço na cabeça para esconderem a careca, surpreenderam as brasileiras chiques que aguardavam no porto a chegada da corte.

No dia seguinte todas as mulheres do Rio estavam de cabeça coberta por lenços, achando que aquela era a última moda na Europa.

Leia também "Por Causa dos Anjos", de Paul Wilson

por Mario Persona

Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional www.mariopersona.com.br. Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.
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Esclarecimentos: O conteúdo deste blog traz respostas a perguntas de correspondentes, portanto as afirmações feitas aqui podem não se aplicar a outras pessoas e situações. Algumas respostas foram construídas a partir da reunião das dúvidas de mais de um correspondente. O objetivo é apenas mostrar o que a Bíblia diz a respeito das questões levantadas, e não sugerir qualquer ingerência de cristãos na política e na sociedade, no sentido de exigir que as pessoas sigam os preceitos bíblicos. O autor é favorável à livre expressão e, ainda que seu entendimento da Bíblia possa conflitar com a opinião de alguns, defende o respeito às pessoas de diferentes crenças e estilos de vida. Aqui são discutidas ideias e julgadas doutrinas, não pessoas. A opção "Comentários" foi desligada, não por causa das opiniões contrárias, mas de opiniões que pareciam favoráveis mas que tinham o objetivo ofender pessoas ou fazer propaganda de alguma igreja ou religião, induzindo os leitores ao erro.

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