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O que era a igreja de Filadelfia?



https://youtu.be/RCubXoP5Mug

Você pergunta se os irmãos que estavam congregados ao nome do Senhor no século 19 representariam a "Filadélfia" de Apocalipse 3. Este é um assunto não fácil de ser tratado, pois hoje existem até denominações que emprestaram para si o nome "Filadélfia" considerando-se aquele exemplo de fidelidade descrito em Apocalipse 3:7-13.

Para entender quem é quem nas sete cartas de Apocalipse, é preciso perceber que existe uma progressão cronológica histórica nas cartas às sete igrejas, algo que obviamente os que viveram nesses períodos não teriam condições de perceber. Mas também foram cartas a igrejas que estavam passando por esses problemas localmente, mas hoje podemos perceber que o contexto era muito mais amplo. Você fará melhor proveito do que vou dizer se acompanhar em sua Bíblia nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse.

Éfeso revela um estado de apatia da igreja por ter deixado seu primeiro amor, Jesus. Cronologicamente ela representa a igreja do primeiro século, e seus desvios já apareciam nas epístolas da época.

Esmirna mostra que ela não recebeu reprovação, mas consolo por ter sido perseguida. Ela representa o período do primeiro ao quarto séculos, quando os cristãos foram duramente perseguidos e martirizados pelos imperadores romanos.

Pérgamo representa a cristandade comprometendo-se com as instituições seculares e colocando-se à sombra do poder civil. Os cristãos se acomodaram ao mundo e passaram a habitar onde está o trono de seu príncipe, Satanás. Ali vemos pessoas com o espírito de Balaão, buscando lucrar com as coisas de Deus e levando o povo a tropeçar na idolatria. A doutrina dos nicolaítas podia ser um embrião do clericalismo. Pérgamo representa o quarto e quinto séculos, quando o imperador Constantino fez do cristianismo a religião do império, oficializou o clero e tornando Roma a cidade referência dos cristãos.

Tiatira é a primeira carta na qual Jesus faz menção de sua vinda, ao dizer “até que eu venha” (Ap 2:25). Nas três cartas seguintes ele diz “Virei como um ladrão”, “Venho em breve” e “Estou à porta” (Ap 3:3, 11, 20), dando a entender que estas quatro fases do testemunho cristão permaneceriam até sua vinda.

Tiatira é elogiada por ter muito amor, boas obras, fé e paciência. Porém é repreendida por promover a idolatria e se prostituir, isto é, comprometer-se com o mundo na busca de vantagens seculares. Você não precisa ser grande conhecedor de história para perceber que a descrição serve como uma luva ao sistema católico romano. Tiatira também admite que uma mulher ensine, a qual é chamada de Jezabel. Foi com o catolicismo romano que se introduziu a ideia de que a igreja ensina, o que contraria a Palavra de Deus que proíbe a mulher de ensinar. A igreja é feminina, é a noiva de Cristo; ela não ensina (veja 1 Tm 2:12), ela aprende dos dons em seu meio. Jezabel continua viva e ativa como um sistema agindo nos bastidores do catolicismo e até os papas estão sujeitos a ela.

Tiatira teve seu apogeu do sexto ao décimo quinto século, quando veio a reforma protestante. Mas nesta carta Jesus fala de sua vinda, dando a entender que este sistema permanecerá até o fim. É dele que sai o protestantismo do período seguinte, representado pela carta à igreja de Sardes, talvez mencionado na carta a Tiatira na expressão: "E ferirei de morte a seus filhos" (Ap 2:23), indicando que Tiatira se ramificaria em igrejas que nasceriam dela.

Sardes representa o período do protestantismo e é caracterizada como tendo nome de que vive, porém está morta. Apesar de ter boas coisas, como o resgate da doutrina da justificação pela fé, acabou se afastando daquilo que recebeu e ouviu. Por não ansiar pela volta do Senhor a qualquer momento, mas acreditar que o mundo precisaria antes ser cristianizado e dominado, ela será surpreendida pela vinda do Senhor como se fosse um ladrão inesperado. Este período vai do século 16 ao 19, quando empresta alguns elementos do período seguinte, representado aqui por Filadélfia.

Filadélfia não recebe palavras de reprovação, mas de consolo e é assegurada de ter diante de si uma porta aberta. Suas características, nem sempre admiradas pelos homens, são elogiadas pelo Senhor. Ela surge como um remanescente fraco, porém não de iniciativa de homens que se propunham a "fundar" alguma religião, mas como uma realização daquele "que é santo, o que é verdadeiro, o que tem a chave de Davi; o que abre, e ninguém fecha; e fecha, e ninguém abre" e que garante sua subsistência com "uma porta aberta, e ninguém a pode fechar" (Ap 3:7-8). Filadélfia tem pouca força, guarda a Palavra de Deus e está comprometida com o nome de Jesus.

Algo que caracteriza Filadélfia é seu apego à graça em contraste com a salvação por obras da Lei, dos chamados judaizantes que já assolavam os gálatas pregando "outro evangelho". O Senhor diz: "Eis que eu farei aos da sinagoga de Satanás, aos que se dizem judeus, e não são, mas mentem: eis que eu farei que venham, e adorem prostrados a teus pés, e saibam que eu te amo." (Ap 3:9). Estes são os mesmos que aparecem em Esmirna, "que se dizem judeus, e não o são, mas são a sinagoga de Satanás" (Ef 2:9). Você já deve ter conhecido algum assim, que não prega o evangelho da graça, mas a guarda da Lei e boas obras como meio de salvação. No fim adorarão o Senhor como todas as criaturas farão quando todo joelho se dobrará, mas não creio que aqui esteja falando de salvos, e sim dos perdidos e meros professos, que hoje são em grande número no testemunho cristão no mundo. A passagem não está dizendo que irão adorar Filadélfia, mas ao Senhor.

Filadélfia surge na sequência de Sardes, na virada do século 18 para o 19, como uma reação à tendência da cristandade de buscar força política, desconsiderar a literalidade da Palavra de Deus e dar pouca importância ao nome de Jesus como o único centro de reunião. Se no período da reforma protestante Deus havia usado Sardes para resgatar a verdade da justificação pela fé, escondida debaixo de séculos de romanismo, no século 19 muitas verdades foram trazidas à tona por Filadélfia, em especial as que dizem respeito à doutrina da igreja revelada ao apóstolo Paulo, à imutabilidade das promessas feitas por Deus a Israel, o povo terreno de Deus temporariamente deixado de lado, ao Nome de Jesus como centro de reunião dos crentes, e à origem e vocação celestial da Igreja.

Não há como negar que o período do século 19 corresponde a irmãos que recuperaram algumas das verdades que estavam entulhadas em séculos de catolicismo e protestantismo. Até mesmo a proliferação do evangelismo se deu nessa época, que também foi quando muitos cristãos passaram a simpatizar com o povo terreno de Deus, Israel, até então perseguido, espoliado e morto por católicos e protestantes. A influência dos ensinos dos irmãos do século 19 podem ser percebidas na mudança de tratamento dado pelos britânicos à questão sionista que culminou na criação do Estado de Israel em 1948.

Em seu livro "Planet Earth - Final Chapter" Hal Lindsay escreve a respeito da "Declaração de Balfour" de 1917, assinada pelo então secretário britânico dos Assuntos Estrangeiros, Arthur James Balfour, que seria o ponto de partida para o restabelecimento dos judeus em sua própria terra:

"Lord Balfour havia se tornado um ávido crente na interpretação literal da profecia bíblica, através da influência do extensivo ministério de John Darby. Como consequência ele cria que Deus não iria mentir ao povo judeu quando prometeu que iria levá-los de volta à sua própria terra e restabelecer a nação de Israel. Lord Balfour, com a assistência de outro membro do Parlamento chamado Lord Lindsay, que também cria nas promessas literais da profecia bíblica, havia exercido uma influência considerável sobre seus colegas no sentido de procurar ajudar a estabelecer um lar para os judeus".

Obviamente, por maior que fosse a boa vontade desses homens, ainda não seria na fundação do Estado de Israel em 1948 que Deus iria concretizar sua promessa de levar o povo de volta à terra. Darby deixou claro em seus escritos que a real volta de Israel à terra seria quando estivessem arrependidos e convertidos ao seu Messias e Rei Jesus.

Portanto, se a influência daqueles irmãos do século 19 não é muito popular hoje isso decorre do fato de terem erguido bandeiras que na época também não eram nem um pouco populares entre católicos e protestantes. Essas bandeiras incluíam o amor por Israel e proteção dos judeus, como também a da verdade de que todo crente em Cristo é um sacerdote, o que joga para escanteio qualquer pretensão clerical.

Mas repare que não é Filadélfia que diz de si mesma ser alguma coisa, e sim o Senhor que diz isso dela. Então não creio que algum irmão no século 19 iria, de sã consciência, afirmar-se como tal, e jamais passaria pela cabeça deles criar uma "igreja" denominada "Igreja Filadélfia", como há muitas por aí. Das sete igrejas de Apocalipse a única que diz ser alguma coisa é Laodiceia, e isso não é nem um pouco bem visto pelo Senhor.

É sempre abominável alguém dizer que é isso ou aquilo nas coisas de Deus, porque se somos ou temos alguma coisa é por pura graça. Gabar-se de ser, fazer e acontecer é o espírito de Laodiceia. Devemos sempre caminhar em humildade, nos considerando como aquele servo inútil dos evangelhos que não fez nada mais do que lhe tinha sido designado. Um funcionário que cumpre seu dever todos os dias não faz mais que sua obrigação.

O erro da cristandade como um todo (e hoje somos todos Laodiceia, sem exceção) foi o mesmo dos judeus. A posição de privilégio que tinham recebido de Deus no passado era deles unicamente por graça, e não por merecimento. Mas eles se acharam os tais, e Deus precisou discipliná-los por isso. A cristandade não deixou por menos e acabou se achando a dona do mundo, e no que diz respeito ao seu testemunho na terra será totalmente repudiada pelo Senhor, que tirará de seu meio os verdadeiros salvos no arrebatamento, e deixará o restante aqui na forma da Grande Meretriz, a Babilônia de Apocalipse. A diferença é que para Israel haverá restauração, e para a cristandade não.

http://www.respondi.com.br/2013/07/somos-o-testemunho.html

por Mario Persona


Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional www.mariopersona.com.br. Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.
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