https://youtu.be/urn0deDZ580
Qualquer um pode ter um animal de estimação, desde que não tente colocá-lo no mesmo patamar de um ser humano. Em Filipenses 4:5 lemos: "Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens.". Este versículo me veio à mente depois de receber mensagens duras de pessoas que se dizem cristãs, em razão de meu posicionamento a respeito de animais de estimação. Por isso decidi buscar na Palavra sobre o assunto e descobri que na Bíblia só existe uma passagem falando de animais de estimação, e mesmo assim usada como parábola.
Foi o profeta Natã quem contou o a parábola para alertar o Rei Davi do pecado que cometeu ao tomar a esposa de Urias e enviar o marido para a morte. "O pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma cordeirinha que comprara e criara, e que em sua casa crescera, junto com seus filhos; comia do seu bocado e do seu copo bebia; dormia nos seus braços, e a tinha como filha." (2 Sm 12:3). Mas o leitor atento perceberá que a passagem não fala de um animal de verdade, mas de uma esposa, Bate-Seba, e do amor e cuidado seu marido Urias por ela.
Os seres humanos são a coroa da Criação de Deus e os animais foram criados para servi-los, como aprendemos desde o Gênesis. Então nunca se esqueça disso: O animal é seu servo, não o contrário. Embora tenham sido criados antes do homem, os animais não foram feitos à imagem e semelhança de Deus e nem receberam um espírito, que é a porção no homem que pode ter comunhão com Deus. Animais têm corpo e alma, portanto inteligência e sentimentos, mas não são seres espirituais. Sua existência termina na morte. Devemos tratar bem deles e sentir compaixão por seu sofrimento, mas nunca amá-los com o amor que Deus diz para amarmos nosso próximo, que são os seres humanos.
A primeira ordem dada por Deus ao homem foi a de procriar e encher a terra, sujeitando-a, e também tendo domínio "sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra" (Gn 1:28). Quando uma criança cuida de um peixinho no aquário, de um passarinho numa gaiola, ou de um cãozinho ou gatinho em seu apartamento, está exercendo o direito de domínio sobre os animais, um domínio que tem respaldo divino, mesmo que peixes tenham sido criados livres nos mares, pássaros nos ares e cães e gatos nas florestas. Como os animais foram dados aos homens para servi-los, e não o contrário, esses animais estão cumprindo uma função, que é servir de companhia à criança e ajudá-la a apreciar as obras da Criação.
Se nestes exemplos vemos o homem sujeitando animais para companhia ou para suprir seu instinto de poder e domínio sobre eles, o mais comum sempre foi que os homens domesticassem animais para alimento, roupas e proteção, e para isso geralmente precisam ser mortos. Mas animais vivos também podem ser úteis, como os cães que são utilizados desde os primórdios por serem uma versão natural do que mais tarde conseguiríamos por meio da tecnologia: visão e olfato aguçados, além de armas de defesa e ataque, instrumentos de caça. e no controle de outros animais, como são os cães pastores.
Os seres humanos no princípio eram vegetarianos e os animais não tinham medo deles. Mas ao saírem da Arca, que salvou homens e animais terrestres do dilúvio universal, Deus mudou a dieta de Noé e sua família, que passaram a ser carnívoros, e mudou o comportamento dos animais que passaram a temer o homem e a fugir dele para sobreviver.
"Abençoou Deus a Noé e a seus filhos e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra. Pavor e medo de vós virão sobre todos os animais da terra e sobre todas as aves dos céus; tudo o que se move sobre a terra e todos os peixes do mar nas vossas mãos serão entregues. Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora." (Gn 9:1-3).
Mas não pense que foi a partir deste ponto que animais começaram a ser mortos. O primeiro animal morto na presente Criação aparece em Gênesis 3:21 e foi o próprio Deus quem o sacrificou: "E fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu.". Este seria o primeiro de milhões de animais sacrificados que anunciavam que um dia Deus entregaria o seu próprio Filho como Cordeiro perfeito e inocente para morrer no lugar do homem, um arruinado pecador.
Abel é o primeiro homem que vemos matando um animal para esta finalidade, e é significativo que Deus tenha se agradado daquele sacrifício cruento e não do sacrifício vegetariano de seu irmão Caim. "Abel, por sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura deste. Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta; ao passo que de Caim e de sua oferta não se agradou." (Gn 4:4-5).
Passaram-se milhares de anos até a era atual, e durante todo esse tempo os animais sempre foram vistos como utilitários para o homem. É entre os pagãos, como os Egípcios e outros povos da antiguidade, que encontramos animais passando a ter uma função decorativa e até mesmo sendo adorados como deuses, portanto se você gosta de elevar o status dos animais acima daquele em que a Bíblia os coloca, saiba que está flertando com o paganismo. Os egípcios adoravam até mesmo o escaravelho, um inseto que se alimenta de fezes e matéria putrefata. Já tive besouros como bichos de estimação para puxar pequenas carroças que eu fazia com caixas de fósforos. Jamais pensaria em compará-los a humanos.
Em culturas como a indiana, a adoração a animais persiste por causa da crença na evolução, que eleva a vaca ao status de animal sagrado e rebaixa a mulher a um nível espiritual abaixo do cão na ordem reencarnacionista. Nas instruções dadas por Deus a Israel, o povo terreno de Deus, não vemos o animal sendo glorificado, muito pelo contrário, aprendemos que cães e gatos, os xodós dentre os modernos pets, eram considerados animais imundos pela Lei mosaica.
Assim os cães aparecem nas páginas da Bíblia com sentido pejorativo, e embora Deus nunca eleve um cão à categoria de um ser humano, ele rebaixa seres humanos ímpios à categoria de cães. No Salmo 22 o Cristo profeticamente declara: "Me rodearam cães; o ajuntamento de malfeitores me cercou, traspassaram-me as mãos e os pés." (Sl 22:16). Dos líderes em Israel, que às vezes encontram um paralelo em alguns líderes na cristandade, o Senhor falou em tom pejorativo como sendo cães, e o mesmo dos perdidos impenitentes:
"Todos os seus atalaias são cegos, nada sabem; todos são cães mudos, não podem ladrar; andam adormecidos, estão deitados, e gostam do sono. E estes cães são gulosos, não se podem fartar; e eles são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, cada um por sua parte... Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão; ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira." (Is 56:10-11; Fp 3:2; Ap 22:15).
O próprio Senhor também usou cães e porcos, animais imundos segundo a Lei mosaica, ao compará-los a seres humanos ímpios para os quais não devemos dar aquilo que temos de melhor e mais precioso. "Não deis aos cães as coisas santas, nem deiteis aos porcos as vossas pérolas, não aconteça que as pisem com os pés e, voltando-se, vos despedacem." (Mt 7:6). Apesar de a Lei dada a Israel proibir comer cães e porcos por serem considerados imundos, no Ocidente os porcos terminam sua existência na panela, o mesmo não acontecendo com os cães que são considerados uma iguaria para alguns povos orientais.
Chegamos aos tempos modernos, quando pessoas passaram a preferir adotar animais a ter filhos, celebridades deixam heranças milionárias para gatos, e pessoas são presas sem direito a fiança, trancafiadas na mesma cela com homicidas, por matarem um animal silvestre para comer. Isto é configurado crime na legislação brasileira atual, a mesma que permite que você mate um ser humano, pague fiança e vá dormir em casa.
Mas antes de prosseguir vamos deixar claro que nada do que estou dizendo tem a ver com a crueldade com que animais são tratados em circos, rodeios, rinhas de galo, praças de touros ou até mesmo nos restaurantes que jogam lagostas vivas na água fervente. Deus autoriza a matança de animais com os propósitos encontrados em sua Palavra, para a sobrevivência do homem, mas abomina o tratamento cruel. Não é por alguém não concordar com a humanização de animais de estimação que isto signifique que essa pessoa aprove ou tenha prazer em maltratar animais.
É engano pensar que a crueldade contra um animal passe despercebida de Deus: "Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai." Por isso é bom pensar duas vezes antes de ferir um animal por motivo fútil. Mas a mesma passagem conclui que aos olhos de Deus os animais são muito inferiores aos seres humanos: "Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais." (Mt 10:29-31). Tentar inverter esta ordem é ir contra a ordem divina, e infelizmente é o que vemos acontecer com alguns que sentem maior compaixão por um cão do que por uma criança abandonada.
Provérbios 12:10 diz que "o justo tem consideração pela vida dos seus animais, mas as afeições dos ímpios são cruéis". Todavia inverter a ordem estabelecida por Deus e exaltar os animais leva fatalmente à idolatria, como mostra Romanos 1:22-25: "Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis... Mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente".
A tendência espiritualista destes tempos modernos tem suas raízes no paganismo e na ideia de que podemos ter um mundo perfeito e sem sofrimento. Mas isso é uma ilusão que encontra guarida principalmente em pessoas que vivem numa bolha de conforto e recursos nas grandes cidades. Em grande parte do planeta os homens lutam para sobreviver e às vezes um cão ou um gato é um luxo, uma boca a mais para alimentar. Em algumas regiões a falta de recursos coloca nas mãos dos próprios habitantes individualmente fazerem aquilo que temos nos grandes centros, os serviços de controle de zoonoses.
Nas cidades grandes o poder municipal cuida de controlar a população de insetos, répteis, aves e mamíferos cuja proliferação possa trazer riscos às pessoas. Mosquitos, escorpiões e cobras podem representar riscos à população e precisam ser mortos. Mas animais de estimação costumam ter o mesmo destino nos grandes centros. A população de cães abandonados nas ruas das grandes cidades é cinco vezes maior que a dos moradores de rua. Todos os anos no mundo inteiro quase três milhões de cães e gatos são sacrificados pelos Centros de Controle de Zoonose, ou por falta de abrigo ou por não existirem pessoas para adotá-los.
Mas esse número é apenas uma fração do que realmente acontece, principalmente com o sacrifício de filhotes em áreas remotas do planeta. Alguém que trabalhe para sustentar sua família em lugares onde não existe acesso à esterilização ou adoção não pode se dar ao luxo de transformar sua casa em um abrigo de animais, . Então ele irá simplesmente eliminar as ninhadas de seu cão ou gato, no todo ou em parte. Considerando que um cão ou gato pode produzir até três ninhadas por ano com um média seis filhotes cada vez (às vezes o dobro disso), e que a maturidade de cada um para procriar é uma questão de meses, procure se recordar do que aprendeu de progressão geométrica e faça as contas.
O Senhor deixou claro que apesar de nossos esforços de caridade o sofrimento humano nunca será eliminado deste mundo, quando disse aos discípulos que "os pobres sempre os tendes convosco" (Jo 12:8). O mesmo vale para os animais, que também só deixarão de sofrer no futuro numa terra restaurada, não por homens, mas pelo próprio Senhor. O apóstolo Paulo fala de homens e animais ao mostrar como a nossa queda no pecado trouxe consequências nefastas a toda a Criação:
"Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo." (Rm 8:18-23).
Animais, de estimação ou não, podem nos ensinar muitas coisas, e o próprio Senhor os usou como exemplo, ao mesmo tempo em que não deixava de nos lembrar que jamais eles deveriam ser elevados ao status de seres humanos: "Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta.". Em seguida ele faz uma pergunta retórica, pois qualquer pessoa de sã consciência não teria dificuldade em responder: "NÃO TENDES VÓS MAIOR VALOR DO QUE ELAS?" (Mt 6:26).
Por isso, ainda que se possa questionar o uso de animais para usos questionáveis, como casacos de peles para ornamento, cílios postiços de pelo de arminho, corridas de touros, ou testes de cosméticos, eles podem ser corretamente usados para salvar vidas humanas. Curiosamente muitos dos que se apresentam como paladinos da justiça animal protestando contra sua morte ou uso na medicina dirigem carros com assentos de couro, usam bolsas e calçados de couro e uma infinidade de produtos que só existem graças ao sacrifício de animais.
Ao sabermos que um ser humano vale mais que muitos pardais, como disse Jesus, não há nada de errado em se usar animais para a subsistência humana ou até para salvar vidas. Por isso não existe proibição divina para que animais sejam utilizados em testes de novos medicamentos, extração de órgãos como válvulas cardíacas de porcos, ou até preparação de medicamentos, soros e vacinas.
Pessoas radicalmente contra o uso de animais na medicina não hesitarão correr para o hospital se um filho for picado por uma cobra ou mordido por um cão raivoso. E não pensarão duas vezes ao autorizarem a aplicação de soro antiofídico ou antirrábico, mesmo que tenha sido graças ao cavalo, que recebe injeções periódicas de peçonha de cobra para de seu sangue produzir o soro antiofídico, ou ao camundongo, cujo cérebro é contaminado com o vírus da raiva para depois ser transformado no soro, que seu filho irá sobreviver.
Você preferiria ver seu filho morrer, depois de picado de cobra ou mordido por um cão raivoso, por ser contra o sofrimento do cavalo ou a morte do camundongo? Pois saiba que o simples ato de você levar seu cão ou gato para ser vacinado contra a raiva só é possível graças à morte de filhotes de camundongos. Então é melhor se acostumar com o fato de que, apesar de condenar a crueldade, Deus deu os animais para que fossem úteis aos homens, inclusive para garantir a sobrevivência humana mesmo que para isso precisem ser sacrificados.
Por isso comemos carne e usamos uma infinidade de produtos de origem animal, de medicamentos a objetos de uso diário. A purificação do açúcar é feita com ossos de boi e sua gordura é usada em algumas marcas de cosmético, amaciante de roupas, shampoo, condicionador e dentifrício. Até a gelatina da capsula do medicamento que você toma veio do porco. O giz de cera de seus filhos, o chiclete e as cordas de alguns instrumentos também começaram sua existência em um pasto, granja ou chiqueiro. Sem falar no seu cão e gato, animais carnívoros para os quais você compra razão enriquecida com proteína animal.
Hoje alguém que nunca viveu na zona rural pode ficar indignado ao encontrar um cavalo puxando uma carroça, e achar isso crueldade. Também acho quando isso é feito em meio ao trânsito pesado de uma grande cidade. Mas até a invenção do vapor, e depois do motor à combustão interna, foram os animais que proporcionaram a força motriz para o transporte e a indústria. Durante toda minha infância e adolescência o leite, o pão, a carne e o peixe eram entregues na casa de meus pais por meio de carroças.
As facilidades das tecnologias modernas acabaram criando toda uma geração que nasceu e cresceu na bolha de um palco que não dá acesso ao que acontece nos bastidores. Muitas crianças não fazem ideia da origem daquele hambúrguer que come na praça de alimentação do shopping. Talvez nunca mais comessem carne nas refeições ou ovos com bacon no café da manhã se conhecessem o processo sangrento de produção. Tive um professor cujo filho pequeno se recusou a comer peixe depois de descobrir que ele morria para virar comida.
Mas uma criança criada na roça sabe perfeitamente que aquele porquinho bonitinho que ela ajuda a alimentar só existe porque é uma fábrica de linguiça, costelinha, pernil e bacon em desenvolvimento que direta ou indiretamente irá sustentar a família. O mesmo vale para a galinha, a vaca, e até os cachorros, que crianças do sítio não chamam de "pet" e não criam para comer, mas para outras tarefas úteis da vida no campo.
Um sitiante pobre que veja sua cadela parir uma dúzia de cachorrinhos não poderá se dar ao luxo de criá-los, e nem deixá-los vivos vagando pela zona rural, pois acabarão se tornando predadores de galinhas ou representarem risco para os humanos. Para as pessoas da minha geração não era estranho ouvir um sitiante dizer que separou um ou dois filhotes da ninhada da cadela ou da gata e afogou o restante. A proliferação de cães e gatos na zona rural só criaria problemas, daí a necessidade de sacrificá-los como fazem as prefeituras das grandes cidades.
A legislação atual diz que o dono pode matar animais produtivos doentes cujo tratamento represente custos incompatíveis com a atividade ou com os recursos do proprietário. Ao comentar essa lei de eutanásia animal não faltam comentários de protetores dos animais, como de uma que disse: "A nova regra é desumana, pois o fazendeiro deveria colocar em sua planilha de custos que bichos também precisam de tratamento".
Com certeza ela nunca criou animais no campo. Será que ela estaria disposta a adotar trezentas vacas ou três mil galinhas doentes? Milhares de animais assim são sacrificados quando acometidos de doenças incuráveis que podem contaminar outros e abalar a economia de toda uma região. Outra comentou: "Não atentaram para o fato de que a eutanásia deve ser praticada em benefício do animal, não de seu proprietário". Percebe aí a inversão de valores? Jesus, porém, diria: "Bem mais valeis vós do que muitos pardais." (Mt 10:31).
O caso dos possessos gadarenos libertados por Jesus é um bom exemplo de onde o Senhor coloca sua prioridade. Nem todos percebem que a humanização dos animais leva à inferiorização do ser humano criado à imagem e semelhança de Deus. O Senhor não hesitou em permitir que demônios levassem à morte dois mil porcos para salvar dois homens possesso. Os demônios que possuíam os homens rogaram a Jesus que lhes fosse permitido entrar nos porcos, "e Jesus logo lho permitiu. E, saindo aqueles espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada se precipitou por um despenhadeiro no mar (eram quase dois mil), e afogaram-se no mar." (Mc 5:13).
Mas para os gadarenos — e acredito também para muitos defensores dos animais — aquilo foi uma crueldade para com os animais, além de um péssimo negócio. Eles praticamente expulsaram o Senhor de suas terras sem pensar que poderia haver outros seres humanos necessitados de libertação. Para eles os animais tinham prioridade, e ao fazerem as contas devem ter achado que sairia caro libertar outros seres humanos possessos a um custo de mil porcos para cada humano.
Toda a celeuma em torno de animais está nos extremos. Num extremo estão os que desprezam totalmente esses exemplares da Criação de Deus, que são importantes para o Criador. No outro aqueles que elevam seus bichinhos ao status de seres humanos, um degrau antes de transformá-los em deuses como fazem os pagãos. Os dois extremos são condenados por Deus.
Nunca podemos perder de vista o aspecto utilitário dos animais. Eles servem nós, e não nós a eles, mas já recebi mensagem de uma mulher cristã querendo confirmar se o que o pastor disse era verdade. Provavelmente para agradá-la ele disse que seu cãozinho que morreu se encontraria com ela no céu onde, segundo o pastor, também existiam cavalos, e mostrou Apocalipse 19:11, que diz: "Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco".
Na antiguidade a utilidade dos animais era equivalente à do atual cartão de crédito, pois podiam ser levados nas viagens e usados como moeda de troca. Este foi também um dos motivos da preocupação de Deus por eles no Livro de Jonas: "E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que estão mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais?" (Jn 4:11). Os seres humanos sempre dependeram dos animais, e Deus sabe disso.
Quando eu morava num sítio no interior de Goiás tive galinhas, patos, dois cavalos, algumas cabras e ovelhas, além de cães. Ganhei um gatinho, mas adoeceu e morreu. Tive um carneiro que cresceu e aprendeu a me atacar cabeceando minhas pernas e me jogando para o alto. Depois que soube que um carneiro havia matado um boi decidi vendê-lo. Na fazenda para onde foi levado o carneiro quase matou um homem. No Antigo Testamento Deus ordenava que animais que atacassem humanos fossem mortos, mas sua carne não devia ser comida: "Se algum boi escornear homem ou mulher, que morra, o boi será apedrejado certamente, e a sua carne não se comerá" (Êx 21:28).
Voltando ao princípio da Criação, lembramos que Deus criou os animais para serem dominados pelo homem. Animais formavam uma classe distinta e mais valorizada do que as outras coisas criadas, mesmo as plantas, pois não vemos Adão dando nomes aos vegetais, e sim aos animais. "Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todo o animal do campo, e toda a ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda a alma vivente, isso foi o seu nome. E Adão pós os nomes a todo o gado, e às aves dos céus, e a todo o animal do campo". (Gn 2:19-20).
Só isso já seria suficiente para mostrar a responsabilidade do homem no cuidado para com os animais, de forma inteligente e com dignidade, nunca crueldade. Se vivêssemos em um mundo perfeito, poderíamos parar por aí, mas a verdade é que não demorou para o pecado arruinar toda a Criação, inclusive os animais, e Deus precisar matar um animal para cobrir a nudez do homem. "Fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu." (Gn 3:21). Você teria coragem de dizer a Deus que ele foi cruel?
Se Abel, mesmo vegetariano, era pastor de ovelhas, isso era porque devia tirar delas o leite para seu sustento e a lã e também o couro para suas vestes e utensílios. Animais passaram a ser usados também para sacrifícios, e após o dilúvio Deus aprovaria a matança de animais para alimento.
Permanece o fato de que o homem tem domínio sobre os animais e deve exercer esse domínio visando sua utilidade para a sobrevivência humana, e não para diversão com práticas cruéis, como nas touradas e até em rodeios. Não me lembro qual foi o poeta que disse que numa tourada os mais cruéis não são nem o touro e nem o toureiro, mas quem pagou ingresso para ver. Touro e toureiro lutam pela sobrevivência, mas a plateia paga para se divertir com o sangue e a morte de qualquer um dos dois.
Se você trata bem seu cão ou gato, e o leva ao veterinário, o veste de lã nas noites frias, e procura dar a ele uma boa vida, você está dentro do que Deus determinou. Você tem domínio sobre ele. Mas o mesmo direito e domínio têm o pescador, que tira o peixe da água para que ele morra por asfixia, ou o açougueiro, que mata o boi ou ovelha com uma pancada na testa para atordoar e uma facada o no pescoço ou no coração.
Nem você e nem eles estão agindo errado. Estão usando do domínio que Deus lhes deu sobre os animais, embora muitos dos que hoje vivem na bolha da civilização moderna não façam ideia de que essas coisas acontecem nos bastidores e são aprovadas por Deus. Ou como você acha que morriam os peixes que Jesus comia, ou os cordeiros que os judeus preparavam para a Páscoa?
Para alguém vivendo na cidade moderna fica realmente difícil entender como um sitiante numa região sem recursos poderia preferir sacrificar seu cão comedor de galinhas para preservar as aves que lhe servem de alimento ou moeda de troca para adquirir sementes ou remédios. Para um cidadão cosmopolita entender isso exige uma mudança drástica de mentalidade cultural, e sabemos que não é algo fácil. Afinal, no outro extremo encontramos os cinco milhões de bois e vacas que vagam livremente pela Índia e atrasam os transportes de carros e trens. A expressão "tem boi na linha" lá é literal.
Meu intuito não é o de condenar quem trata bem seus cães e gatos, mas o de mostrar o equilíbrio que a Bíblia exige. Mas não pense que paro por aqui. Não, eu acredito que um cristão que já tem demonstrado seu grande amor e apreço por cães e gatos deveria fazer o mesmo pelo ser humano e numa proporção ainda maior. Que tal avaliar seu gasto com seu cão ou gato e destinar também uma parcela de seu orçamento doméstico para adotar uma criança? Você não precisaria adotá-la no sentido de levá-la para casa, mas poderia participar de sua educação, alimentação e tratamento doando um valor mensal para alguma instituição de amparo ao menor.
Quanto doar? Bem, foi para isso que sugeri que você avaliasse o quanto gasta mensalmente com seu cão ou gato e, a partir desse valor, defina quanto destinar a cada criança. Mas lembre-se de fazer isso segundo o padrão de Deus, para quem uma criança vale muito mais "do que muitos pardais." (Mt 10:31). Então faça as contas de seus gastos com seus pets e multiplique pelo valor que achar que Deus deve atribuir a uma criança. Conta difícil de fazer, não acha?
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)