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Por que outros que viviam no pecado foram salvos?



https://youtu.be/1uN2Xx26uY4

Você escreveu contando que nasceu numa família pentecostal e até pouco tempo atrás acreditava que a salvação dependia de você. Contou de como lutou e se absteve de quase tudo, achando que Deus levaria em conta seu esforço, mas isso nunca lhe trouxe paz. Agora, já adulto, diz que nunca bebeu, nunca fumou, nunca teve relações sexuais e sua vida se resumia ao trabalho e à igreja. Então vem sua frustração que se transforma em indignação, quando vê muitos que viviam de qualquer maneira, que se drogavam e faziam tudo o que você evitava fazer, um dia pediram perdão a Deus e agora estão casados, com filhos, carros, pregando na igreja, e alguns até ocupando cargos de pastor.

Então você questiona mais ou menos assim: "Será que tudo que fiz foi em vão? Tudo que sofri, tudo pelo que passei, toda a gozação e humilhação por ser cristão e não seguir os outros? Que diferença faz eu ter feito bem ou mal? Se quem aceita a Cristo vai para o mesmo lugar, independente da vida que levou, que vantagem tenho eu?".

Logo depois de eu me converter fui com o irmão e colega de faculdade que me pregou o evangelho à casa de uma tia dele. A mulher estava gravemente enferma com artrose deformante e vivia há alguns anos numa cama com dores horríveis. Muito católica, todos dias o padre a visitava para ela se confessar e receber a hóstia. Quando chegamos o padre ainda estava lá e tivemos de esperar ele sair. Então meu amigo começou a falar a ela da graça de Deus, da salvação pela fé somente, de como Cristo tinha morrido para nos salvar e nada do que fizéssemos poderia ajudar em nossa salvação etc.

Quando a mulher entendeu a mensagem ficou transtornada. Começou a gritar coisas como "QUER DIZER QUE TODO MEU SOFRIMENTO NESTA CAMA NÃO CONTA? DEUS NÃO VAI ME RECOMPENSAR POR TODA A DOR QUE PASSEI AQUI?! ISSO É UMA INJUSTIÇA!". E praticamente nos expulsou de sua casa.

Pelo que você disse, sua experiência não é muito diferente daquela vivida pela tia de meu amigo. Aparentemente tudo o que você fazia não era para o Senhor, mas para si mesmo, na tentativa de barganhar com Deus por salvação e bênçãos terrenas. E então, como não viu o resultado de seu investimento, sentiu-se frustrado como quem compra ações podres e não vê o lucro. Isso é claramente consequência da doutrina pentecostal em que você foi criado, que ensina as pessoas uma salvação por mudança de vida e perseverança e estimula a ganância levando seus seguidores a correr atrás de benefícios materiais nesta vida.

Você escreveu: "Lutei tanto tempo contra mim mesmo, até hoje luto, me abstive de quase tudo, pois pensava que Deus veria isso.". Ora, e quem disse a você que o crente deve lutar contra sua própria carne e o pecado? A carne devemos reputar como morta, e do pecado devemos fugir, como José fugiu da esposa de Potifar, quando esta o agarrou pelas vestes. José não conversou, não negociou, não ficou segurando suas vestes, mas fugiu e deixou tudo para trás.

"Sucedeu num certo dia que ele veio à casa para fazer seu serviço; e nenhum dos da casa estava ali; e ela lhe pegou pela sua roupa, dizendo: Deita-te comigo. E ele deixou a sua roupa na mão dela, e fugiu, e saiu para fora." (Gn 39:11-12).

Nossa luta não é contra a carne e o pecado, mas contra Satanás e suas hostes nos lugares celestiais. Quando invertemos isso nos damos mal. "Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais." (Ef 6:12).

Oras, acaso esses pregadores pentecostais que prometem mundos e fundos às pessoas que os seguem nunca repararam na vida desgraçada que tiveram os apóstolos, no tanto que sofreram, e de como terminaram torturados e mortos? (exceto João, que morreu na prisão). Se você tivesse feito tudo para a glória de Deus, e não para seu próprio proveito como ensinam os pregadores pentecostais sob os quais foi criado, poderia se regozijar como os apóstolos se regozijavam de não terem trabalhado ou se esforçado em vão. Paulo escreve: "Retendo a palavra da vida, para que no dia de Cristo possa gloriar-me de não ter corrido nem trabalhado em vão." (Fp 2:16).

Os pregadores pentecostais que disseram a você que teria recompensa aqui nesta vida mentiram, muito provavelmente por terem eles também sido enganados pela doutrina que aprenderam, misturando as bênçãos materiais prometidas a Israel em troca de obediência, com as bênçãos espirituais que já foram todas dadas ao crente no exato momento em que se converteu a Cristo. As bênçãos prometidas a Israel eram para a vida na terra; as que são para a Igreja são celestiais e já estão armazenadas nos céus.

"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo." (Ef 1:3).

Se você tivesse lido com cuidado o "contrato" que estava fazendo com Deus quando decidiu crer em Cristo teria visto estas cláusulas nos versículos que se seguem. Então não pode agora dizer que não foi avisado. Deus está cumprindo tudo que prometeu a você. Confira:

"Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo... Mas é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes." (Jo 16:33; 1 Tm 6:6-8).

Você escreveu que enquanto se guardava de tudo, não bebia, não fumava, não se drogava, não fazia sexo, outros viviam se divertindo no vício e na promiscuidade até que um dia pediram perdão a Deus e foram salvos. Então se casaram, tiveram filhos, carros e são até pregadores, hoje dando testemunho da vida devassa de onde saíram. Será que estou vendo uma pontinha de inveja em tudo isso? Davi foi um que precisou aprender esta lição, e ele próprio depois escreveria: "Os meus pés quase que se desviaram; pouco faltou para que escorregassem os meus passos. Pois eu tinha inveja dos néscios, quando via a prosperidade dos ímpios... Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade." (Sl 73:2-3; 37:1).

Quando você tenta se justificar dizendo que ficou longe de vícios e prostituições não percebeu que no pacote de seu coração essas coisas continuavam latentes, ainda que não praticadas exteriormente, pois ali conviviam com a inveja dos que praticavam essas mesmas coisas: "Porque do interior do coração dos homens saem os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem." (Mc 7:21-23).

Você deixa muito claro em sua mensagem que fazia tudo isso também para tentar garantir sua salvação por meio de suas obras, vida correta e perseverança, que foi o que aprendeu no pentecostalismo. Você escreve: "Vivi até pouco tempo acreditando que a salvação dependia de mim, nasci em uma família pentecostal... Por que Deus permitiu que eu continuasse cego para a salvação somente pela graça e deixou eu caminhando num caminho tão azedo?". Bem, a resposta você poderá encontrar em Paulo, um homem que procurou viver do modo mais estrito segundo o judaísmo para depois descobrir que tudo o que ele era e havia conquistado não passava de lixo. Paulo confessa:

"Porque já ouvistes qual foi antigamente a minha conduta no judaísmo, como sobremaneira perseguia a igreja de Deus e a assolava. E na minha nação excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais... Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo, e seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé; para conhecê-lo, e à virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte; Para ver se de alguma maneira posso chegar à ressurreição dentre os mortos. Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus." (Gl 1:13; Fp 3:4-12).

O caminho de Paulo deve ter sido bastante azedo também, só para usar o mesmo adjetivo que vocÊ usou para descrever sua vida, mas a reação dele foi oposta à que você demonstra ter agora: Paulo se regozijou por terem caído as escamas de seus olhos e encontrado a verdadeira paz em Cristo, e não em si mesmo. Ao que tudo indica essa paz com Deus você ainda não encontrou, pois não vi uma letra de descanso em suas palavras. Talvez você esteja ainda no caminho para Damasco. É hora de olhar para a luz de Cristo e decidir glorificá-lo em tudo, e não ficar cutucando as cascas de suas feridas.

Você confessou que ler as coisas que escreveu para mim foi como se olhar no espelho e vir o que há de pior em você. Isso é ótimo! Na Lei, quando alguém ficava leproso, era colocado fora do arraial de Israel. Eventualmente os sacerdotes iam visitá-lo para saber como andava o progresso da lepra, e paradoxalmente, quando a lepra tivesse coberto todo o corpo, dos pés ao topo da cabeça, os sacerdotes declaravam que o homem estava são. A lepra era uma figura do pecado e aquilo ensinava que é só quando alguém está convicto dos pés à cabeça da malignidade de seu pecado é que pode ser perdoada por graça somente.

"E o sacerdote o examinará, e eis que, se há inchação branca na pele, a qual tornou o pêlo em branco, e houver carne viva na inchação, lepra inveterada é na pele da sua carne; portanto, o sacerdote o declarará por imundo; não o encerrará, porque imundo é. E, se a lepra se espalhar de todo na pele, e a lepra cobrir toda a pele do que tem praga, desde a sua cabeça até aos seus pés, quanto podem ver os olhos do sacerdote, então o sacerdote examinará, e eis que, se a lepra tem coberto toda a sua carne, então declarará o que tem a praga por limpo; todo se tornou branco; limpo está." (Lv 13:10-13).

Você acrescentou que tem se sentido como Jó em suas lamentações, mas lembre-se de que Jó no final precisou ser repreendido por Deus por seu modo de agir. Até mesmo o achar-se o mais desvalido de todos os homens traz nisso um certo orgulho e egoísmo. Tem gente que vive com três refeições diárias de autopiedade e leva uma vida miserável por isso.

Quanto a achar que Deus não poderia pensar em você tendo tantas outras coisas para se preocupar, lembre-se daquele eunuco, que viajava por uma solitária estrada voltando desapontado de Jerusalém, quando descobriu que tinha ALGUÉM de olho nele. O Senhor se importa com cada um de nós e se importou com aquele homem ao ponto de o Espírito Santo transportar Filipe até o local por onde passava sua carruagem.

Meu conselho? Fuja do falso evangelho que diz que você precisa eliminar seus vícios, ter uma vida correta, e DEPOIS crer em Jesus para ser salvo. Ora, será que nunca escutou o hino que diz para irmos a Cristo do jeito que estamos para encontrar nele o perdão e a nova vida que só ele pode dar? Não existem pendências que alguém precise resolver antes de crer em Jesus; é preciso ir a ele fedendo a porco, como foi o filho pródigo.

Agora pare imediatamente com esse mimimi e descanse na salvação que o Senhor pode dar quando descobrimos não existir nada em nós que nos faça merecedores de eliminar a terrível lepra do pecado, e que somente pela fé em Cristo e sua obra podemos ser salvos. Olhe para ELE e pare de olhar para você e seus sentimentos, porque não vai encontrar dentro de si nada de bom. Tudo o que irá encontrar são "os maus pensamentos, os adultérios, as prostituições, os homicídios, os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a blasfêmia, a soberba, a loucura" e "a inveja" que faz você querer ter tido tudo o que seus amigos tiveram e mesmo assim foram perdoados.

https://grandealegria.blogspot.com/2018/08/nao-tenhas-sobre-ti-um-so-cuidado.html

por Mario Persona

Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional (www.mariopersona.com.br). Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.)
Mario Persona é palestrante e consultor de comunicação, marketing e desenvolvimento profissional www.mariopersona.com.br. Não possui formação ou título eclesiástico e nem está ligado a alguma denominação religiosa, estando congregado desde 1981 somente ao Nome do Senhor Jesus. Esta mensagem originalmente não contém propaganda. Alguns sistemas de envio de email ou RSS costumam adicionar mensagens publicitárias que podem não expressar a opinião do autor.
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Esclarecimentos: O conteúdo deste blog traz respostas a perguntas de correspondentes, portanto as afirmações feitas aqui podem não se aplicar a outras pessoas e situações. Algumas respostas foram construídas a partir da reunião das dúvidas de mais de um correspondente. O objetivo é apenas mostrar o que a Bíblia diz a respeito das questões levantadas, e não sugerir qualquer ingerência de cristãos na política e na sociedade, no sentido de exigir que as pessoas sigam os preceitos bíblicos. O autor é favorável à livre expressão e, ainda que seu entendimento da Bíblia possa conflitar com a opinião de alguns, defende o respeito às pessoas de diferentes crenças e estilos de vida. Aqui são discutidas ideias e julgadas doutrinas, não pessoas. A opção "Comentários" foi desligada, não por causa das opiniões contrárias, mas de opiniões que pareciam favoráveis mas que tinham o objetivo ofender pessoas ou fazer propaganda de alguma igreja ou religião, induzindo os leitores ao erro.

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